Delegacias do DF registram 12,5 mil casos de estelionatos em dez meses
sexta-feira, 1 de dezembro de 2017
Criminosos usam, principalmente, o telefone e a internet para convencer as vítimas a depositar dinheiro em contas bancárias
O telefone de casa toca. Do outro lado da linha, alguém comunica que há um prêmio em dinheiro, mas, para recebê-lo, é preciso que um adiantamento seja depositado em determinada conta. Pode parecer absurdo, mas muita gente ainda cai nesse tipo de armadilha. Golpes com as mais diversas histórias, como falsos sorteios, sequestros de parentes e casos de um suposto sobrinho que está a caminho da cidade e precisa de ajuda para consertar o carro na estrada, se tornaram populares. Todas essas fraudes, cometidas pela internet, pessoalmente ou por telefone, são consideradas estelionato. De janeiro a outubro deste ano, 12.587 desses crimes foram registrados nas delegacias do DF, segundo a Secretaria de Segurança Pública e da Paz Social. Índice representa um crescimento de 10% em relação ao mesmo período do ano passado.
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Jonatas José Silva, delegado da Divisão de Falsificação e Defraudação (Difraudes), da Polícia Civil do DF, explicou que os criminosos se aproveitam da ambição das vítimas e da necessidade de receberem a quantia oferecida. “Eles exploram a ganância das pessoas e a vontade delas em ganhar alguma coisa. Em muitos casos, a situação é comum por envolver um momento de dificuldade”, ressaltou o investigador.
Tecnologia
O advogado Ronaldo Ferreira da Rocha atende vítimas desse tipo de golpe. Duas clientes aposentadas receberam a informação de que tinham direito a receber valores de ações judiciais. Contudo, elas precisariam fazer o pagamento das custas processuais, algo em torno de R$ 900, para receber o valor. Uma delas procurou o defensor após ter pago a quantia. “Obviamente, ela não recebeu nada. Quando tentei contato por meio do telefone utilizado para falar com a vítima, uma pessoa se identificou como Paulo e disse que o número era de uma residência particular havia mais de 18 anos”, afirmou Ronaldo. Apesar disso, o advogado ouviu uma voz feminina ao fundo da conversa. Segundo ela, a mulher orientava alguém que parecia ser outra possível vítima do esquema.O delegado Jonatas alertou que o fato de o telefone ter um número fixo ou o código do DF (61) não significaria, necessariamente, que a ligação seja originária daqui. “Esses criminosos, geralmente, fazem o uso de Voip (tecnologia que permite fazer ligações pela internet) e compram números telefônicos de vários estados. Ele pode estar no Paraná com o DDD do DF, por exemplo. Por isso, os cidadãos devem ficar atentos ao atender ligações de números desconhecidos, sejam da própria cidade, sejam de fora”, esclareceu.
O investigador disse que essa modalidade de golpe é novidade para a divisão, porque costumava ser aplicado por meio de correspondência. O crime pode ser considerado estelionato, com pena prevista de 1 a 5 anos de reclusão; ou, se caracterizar furto qualificado mediante fraude, a previsão é de pena de 3 a 8 anos de prisão.
Fraude com moeda virtual
Recentemente, um esquema de pirâmide desarticulado no Distrito Federal fez cerca de 40 mil vítimas. Sob a promessa de retorno financeiro rápido, a Wall Street Corporate comercializou a moeda virtual Kriptacoin. Os responsáveis pelo golpe movimentaram aproximadamente R$ 250 milhões em um ano e nove meses.
Sem saber de que se tratava de uma fraude, um projetista de 30 anos contou que a persuasão dos responsáveis pelo negócio era a principal forma de atrair o interesse de novos clientes. Havia, por exemplo, a promessas de lucro semelhante ao de moedas virtuais consolidadas, como a Bitcoin. “Investi muito pouco, só R$ 1 mil. O valor era convertido na criptomoeda, de acordo com a cotação vigente. Consegui vender algumas na plataforma, mas também fiz trocas por sapatos, eletrodomésticos, suplementos”, relembrou. Segundo ele, as negociações aconteciam motivadas pela esperança de que a moeda valorizasse.
O professor do Departamento de Ciência da Computação da Universidade de Brasília (UnB) José Gondim afirmou que as criptomoedas ganham força por todo o mundo, mas ressaltou a importância de se entrar nesse tipo de investimento por meio de corretoras confiáveis. “É sempre bom ter cuidado com investimentos em cima de criptomoedas. No caso da Bitcoin, ela conta com tecnologias públicas para sua execução, operação e auditoria. Por isso, ela não tem dono. Qualquer caso em que se aponte uma moeda como algo de implementação privada, vale desconfiar”, revela.
Outro prejudicado pelo negócio foi um empresário de 36 anos, que também preferiu não se identificar. Ele desembolsou R$ 21 mil para investir na Kriptacoin sem desconfiar do esquema. “Quando entrei, cada conta rendia R$ 30 diários. Após 30 dias, R$ 900 ficavam acumulados no banco virtual. Como havia o desconto de algumas taxas, nós terminávamos o mês com cerca de R$ 680”, detalhou.
O empresário registrou ocorrência e entrará com uma ação judicial para tentar reaver o dinheiro perdido. “Algumas pessoas entraram no início do ano; por isso, ainda estavam recebendo o dinheiro de volta. No meu caso, perdi todo o valor investido, porque, além de ter ingressado mais perto da desarticulação do esquema, eu não tinha sacado valor algum. Quando fui fazer isso, a polícia fechou a empresa”, explicou.